segunda-feira, 19 de agosto de 2019

A imigração alemã no Rio Grande do Sul



ISABEL CRISTINA ARENDT / MARCOS ANTÔNIO WITT / GÜNTER WEIMER

A imigração alemã no Rio Grande do Sul

A imigração alemã no Rio Grande do Sul
Panorama da cidade de Ijuí, sem data. Acervo Museu Histórico Visconde de São Leopoldo
Os primeiros imigrantes alemães chegaram ao Rio Grande do Sul em 1824, vindos de diversas regiões da Alemanha. Instalados na colônia São Leopoldo, às margens do Rio dos Sinos, próximo à capital da província, Porto Alegre, o grupo era formado por agricultores, artesãos e soldados. Esta composição estava estreitamente relacionada aos objetivos traçados pelo Império brasileiro quanto à imigração de europeus: criar e dinamizar um mercado interno; contrabalançar o poder dos grandes proprietários rurais; incentivar o desenvolvimento de pequenas manufaturas, que deveriam se transformar em médias e grandes indústrias; substituir, aos poucos, a mão-de-obra escrava africana; e fornecer homens para lutar nas guerras que o Brasil travou ao longo do século XIX.
Parte da historiografia que se dedicou ao tema da imigração cristalizou a ideia de que a grande maioria dos imigrantes era formada por agricultores. Mas sabemos que em São Leopoldo, entre 1824 e 1845, 60% dos homens eram artesãos, da área metalúrgica, da produção têxtil, do comércio, etc. Deste artesanato surgiram pequenas, médias e grandes indústrias. Sobrenomes como Adams, Arnt, Dreher, Gerdau, Mentz, Oderich, Renner, Ritter, Trein, entre outros, despontaram no cenário econômico brasileiro. Assim, é possível perceber que o artesanato, trazido por imigrantes alemães e perpetuado por seus descendentes, floresceu e permitiu que algumas famílias fundassem indústrias.
Novo Hamburgo, por exemplo, cidade próxima a Porto Alegre, ostenta o título de “capital nacional do calçado” e possui um museu específico, o Museu do Calçado, para contar a saga dos primeiros imigrantes alemães que se dedicaram ao manuseio do couro. Daí derivou o trabalho 137 artesanal que produzia botas, chinelos e selas para montaria. As sapatarias e pequenas manufaturas, empregando mestres e aprendizes, acabaram se transformando nas incipientes indústrias do ramo coureiro-calçadista que se espalharam pela cidade. Parte do século XIX e do XX foram testemunhas do enriquecimento de famílias que investiram em curtumes e/ ou fábricas que transformavam o couro em sapatos e bolsas, vendidos tanto para o mercado interno quanto para o exterior. Novo Hamburgo tem sua origem nos empreendimentos de artesãos do século XIX.
Em 1827, três anos depois do início do movimento imigratório, Carl Seidler assinalou que “aqui (em Porto Alegre) existiam... operários alemães, como marceneiros, alfaiates e sapateiros, em grande número, e todos prosperavam, pois de bom grado pagava-se a um operário alemão o dobro do que se pagava a um nacional”. Trinta anos mais tarde (em 1857), Carlos Jansen publicou uma preciosa Folhinha Rio-Grandense na qual fez um levantamento bastante acurado das atividades dos moradores de Porto Alegre. Com base nestes dados avaliamos que o contingente teuto da população desta cidade deveria se aproximar de 15% de seus habitantes, dos quais 67% eram artesãos, 20% comerciantes e os restantes 13% eram profissionais liberais. Portanto, o grupo dos imigrantes era bastante heterogêneo, sendo que apenas os comerciantes mais bem sucedidos abriram estabelecimentos na rua principal da cidade.
O relativo enriquecimento das colônias “alemãs” fez surgir uma atividade que seria de fundamental importância no desenvolvimento econômico estadual: o caixeiro viajante. Como representantes dos principais empórios urbanos de importação e exportação, tiveram um papel decisivo na atualização dos métodos produtivos e na elevação do nível cultural nas colônias. Esta interação mostrou o quanto esses profissionais estavam a par das necessidades dos agricultores.
Até hoje, o Estado do Rio Grande do Sul é sinônimo da imigração alemã e italiana. Os primeiros jornais e almanaques, como por exemplo, o jornal Der Colonist, de 1852, de Porto Alegre, e o primeiro almanaque, Koseritz´ Deutscher Volkskalender für Brasilien, de 1874 foram publicados no Rio Grande do Sul. Além disso, surgiu a necessidade da fundação de escolas alemãs. Em 1850, existiam 24 escolas. Na maioria eram escolas pequenas com um professor só e vinculadas à igreja católica/jesuíta ou luterana. Por causa das escolas alemãs também cresceu o mercado de editoração de livros escolares, como, por exemplo, a editora mais famosa e ainda existente, Rotermund, fundada em 1877. Os imigrantes organizaram sua própria vida religiosa e construíram os seus templos (inicialmente as escolas serviram como capelas) e cemitérios. Foi também no Rio Grande do Sul que começou a vida social e comunitária dos imigrantes alemães com a fundação de associações, clubes e sociedades de uma abrangente variedade: desde o esporte, passando pela ajuda social até o divertimento, o lazer, a cultura e a recreação. Assim, as festas típicas alemãs como Kerb e Oktoberfest, tiveram continuidade até hoje no sul e no sudeste do Brasil.

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